O que é Hérnia inguinal?
Hérnia inguinal é um “defeito” ou um “buraco” na região dos músculos da virilha, logo abaixo da pele desta região.
Este buraco permite a passagem de algum dos órgãos de dentro da barriga (principalmente gordura ou o intestino), o que pode causar sintomas no local e alguns riscos à saúde.
Algumas hérnias inguinais são detectadas durante a infância. Recomendamos que procure um pediatra ou cirurgião pediátrico para te orientar.
Nos adultos as hérnias inguinais podem ser adquiridas conforme envelhecemos ou um “defeito do nascimento” que não foi corrigido na infância e pode necessitar de atenção pelos seus sintomas e complicações.
Este texto foi baseado nos anos de experiência que acumulei no tratamento da hérnia inguinal em adultos.

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Quais são as principais causas e fatores de risco para aparecimento de hérnia inguinal?
Segundo o encontro mais recente de experts em hérnia no mundo, a chance de aparecer uma hérnia inguinal durante toda a vida é de cerca de 30% nos homens (estudos variam de 27-43%) e de 3-6% em mulheres.
Os principais fatores de risco para o aparecimento de hérnia inguinal são:
- sexo masculino
- histórico familiar de hérnia inguinal
- idade maior que 50 anos
- situações médicas que aumentam a pressão abdominal: aumento de peso e obesidade, constipação intestinal, cirurgias e traumas na região, tosse crônica, gravidez e prostatismo
- presença de outra hérnia
- alterações da cicatrização
- cirurgia prévia da próstata

Quais os sintomas mais comuns da hérnia inguinal?
Algumas hérnias inguinais são muito pequenas, não são percebidas pelos pacientes e são difíceis de avaliar até mesmo por um cirurgião experiente. Estashérnias inguinais podem não apresentar sintomas.
Outras hérnias inguinais são maiores e geram sintomas discretos nos pacientes. Por último, existem hérnias inguinais enormes que não deixam dúvidas da necessidade de tratamento por causarem muito transtorno no dia-a-dia.
O site da Mayo Clinic descreve bem os sintomas que podem acontecer:
- desconforto, sensação de peso, queimação ou incômodo na região da virilha
- às vezes o desconforto aumenta para dor local, principalmente com a realização de esforços que “forcem a barriga” (tosse, espirro, exercício e levantamento de peso por exemplo)
- em alguns casos não há dor, mas pode se perceber um inchaço, “bolinha”, “abaulamento”, “caroço” ou algo diferente na virilha.
Diagnóstico da hérnia inguinal
É bem estabelecido entre os especialistas desta área, que um cirurgião digestivo experiente e bem treinado consegue fazer o diagnóstico de hérnia inguinal durante a consulta, com perguntas corretas e exame físico bem detalhado.
Em alguns casos, usamos ultrassonografia, herniografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética para confirmar o diagnóstico ou entender detalhes da região da virilha que auxiliem no entendimento da situação ou no planejamento do tratamento da cirurgia de hérnia inguinal.
Qual médico trata a hérnia inguinal?
O médico especializado em hérnia inguinal é o cirurgião geral ou cirurgião do aparelho digestivo.

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Quando é necessário operar a hérnia inguinal?
Os principais fatores que determinam a necessidade de tratamento de hérnia inguinal nos dias atuais são a presença e a intensidade dos sintomas, as condições de saúde, profissão e hábitos do dia-a-dia e a prática de atividade física.
Hoje é aceitável que homens adultos com hérnias inguinais pequenas, sem sintomas, que não oferecem risco imediato para o indivíduo, possam ser acompanhadas em algumas circunstâncias.
Vale uma visita ao cirurgião para uma discussão detalhada e para determinar o melhor a ser feito no seu caso específico de hérnia inguinal.
Gosto de destacar que os melhores e mais modernos estudos que permitiram seguimento de hérnia inguinal, sem cirurgia, acharam que a maioria (70%) com hérnia inguinal pequena e sem sintomas no momento inicial desenvolvem dor e incômodo em algum momento, precisando de tratamento.
Os estudos científicos não são claros de quando os sintomas de hérnia inguinal podem começar naqueles que não sentem nada. Existe uma descrição de períodos que vão de algumas semanas até 10 anos para que isto aconteça.
Hoje é raro, mas ainda temos situações em que pacientes apresentam hérnias inguinais grandes e sintomáticas, e por algum motivo não podem operar temporariamente ou em definitivo, por problemas diversos de saúde.
É minha opinião que a não ser que existam grande problemas para a realização da cirurgia, todos os pacientes que podem passar pelo procedimento cirúrgico, deverão ser operados de forma planejada e não emergencial, uma vez que a hérnia inguinal traz bastante desconforto e pode piorar com o passar do tempo.
Qualquer hérnia inguinal pode sofrer estrangulamento?
Em alguns casos, existe uma outra complicação mais grave e preocupante, que são conhecidas como hérnias inguinais estranguladas, antigamente conhecidas como encarceradas. Estas exigem tratamento cirúrgico emergencial.
Nesta situação, a porção do intestino que passou pelo “buraco” fica apertada e não retorna a barriga. O intestino deixa de receber oxigênio e sangue neste local.
Como consequência, o intestino sofre. Existe um risco de rompimento e de infecção. Devido à potencial gravidade da situação consideramos que hérnia inguinal encarcerada é uma emergência cirúrgica.
Isto acontece felizmente em um número reduzido das vezes, 2-3% de todas as hérnias inguinais, mas transforma um tratamento programado e com recuperação simples em uma emergência, com riscos e repercussões na vida pessoal e profissional.

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Como tratar a hérnia inguinal?
Para quem precisa de tratamento, o tratamento de todas as hérnias inguinais é realizado através de cirurgia, conhecida como herniorrafia inguinal.
Não existe remédio, creme, cinta, faixa ou produto que resolva com sucesso a hérnia inguinal.
São realizadas mais de 20 milhões de cirurgias de hérnia inguinal no mundo todo ano, sendo um dos procedimentos mais entendidos e estudados das últimas décadas.
A cirurgia de herniorrafia inguinal consiste em fechar ou vedar o buraco, permitir a cicatrização para que os sintomas desapareçam.
Cobrimos o orifício herniário de uma maneira apropriada para que os órgãos de dentro da barriga não passem mais pelo local defeituoso. Desta forma, a cicatrização acontece e a hérnia inguinal será curada.
Como é realizada a cirurgia de hérnia inguinal?
A história do tratamento das hérnias inguinais tem mais de 150 anos com inúmeras técnicas e variantes descritas e estudadas ao longo dos anos.
Inicialmente as cirurgias eram realizadas com grandes cortes na virilha e com uma variedade de maneiras de dar pontos no defeito herniário.
Ao longo dos anos, entendemos que o uso de telas leva a um melhor resultado. As técnicas, a anestesia e os equipamentos evoluíram para realizarmos cirurgias de herniorrafia por videolaparoscopia.
Hoje, contamos com tecnologia ainda mais avançada para a realização de herniorrafia inguinal robótica.
A cirurgia convencional ou tradicional: herniorrafia inguinal “aberta”
O método mais utilizado para realização da cirurgia de hérnia inguinal é a herniorrafia inguinal convencional.
Nesta cirurgia, pode ser fechado o defeito (“buraco”) da hérnia com pontos ou utilizando uma tela para fazer a correção do defeito. Usamos um corte de 5-8 cm na região da virilha.
Esta cirurgia pode ser realizada com anestesia local, peridural, raquidiana ou geral dependendo da saúde do paciente e da avaliação do anestesiologista.
Quando bem executadas, herniorrafia inguinal abertas podem resolver a hérnia inguinal.
No entanto, existe maior dor no período inicial após a cirurgia e uma maior frequência de problemas relacionados ao corte na região, como infecções no local, inchaço e acúmulo de líquido e de sangue.
A cirurgia laparoscópica: herniorrafia inguinal laparoscópica
Esta técnica requer anestesia geral. Realizamos três pequenos cortes (menores que 10mm) ao redor do umbigo. Injetamos ar na barriga e coloca-se uma câmara para que a equipe identifique o local a ser operado e o “buraco” da hérnia inguinal.
Pelos pequenos cortes os instrumentos especiais permitem a localização do defeito herniário e correção do “buraco” com o uso de uma tela cirúrgica.
Os resultados da correção por laparoscopia, quando bem indicados e executados, são similares ou melhores que a cirurgia convencional. A herniorrafia inguinal por laparoscopia permite:
- menor dor nos dias iniciais da cirurgia por usarmos cortes menores e não mexermos na virilha
- menor cicatriz e melhor resultado estético
- recuperação mais rápida do que o método convencional com menos inchaço e roxo
- retorno mais rápido as atividades pessoais, profissionais e esportivas.
A revolução dos robos: herniorrafia inguinal robótica
Nos últimos 15 anos a tecnologia robótica é o que existe de mais avançado para a realização de herniorrafia inguinal.
Trata-se de um conjunto de tecnologias para a segurança do procedimento, maior precisão e a comodidade do cirurgião e facilidade de recuperação da cirurgia para o paciente.
Na cirurgia robótica o cirurgião controla um robô que está conectado a barriga do paciente. São feitos cortes e injeta-se gás de forma semelhante a laparoscopia.

Os grandes benefícios para o cirurgião são uma melhor visualização do local da cirurgia e uma maior facilidade de manipular instrumentos mais modernos na região da virilha.
Para o paciente o incômodo no período inicial é menor e a recuperação ainda mais rápida.
Alguns pacientes relatam que não tiveram dor alguma e o uso de medicamentos nos dias iniciais é bem reduzido.
Recomendo que a cirurgia de herniorrafia inguinal robótica seja realizada por equipe adequadamente treinada e atualizada, com grande experiência nos diversos tipos de tratamento da hérnia inguinal e com cirurgia robótica.
Uma palavrinha sobre o uso de telas nas cirurgias de hérnia inguinal
Uma dúvida que escuto diariamente é sobre a necessidade e quais os riscos do uso de telas para a herniorrafia inguinal.
Estas telas funcionam como uma “redinha” (parecem uma gaze aberta). São feitas de materiais especiais que são facilmente assimilados pelo organismo.
A vantagem é cobrir o buraco do defeito herniário, sem produzir “tensão no local”. Desta forma, é consenso nacional e mundial que o uso de telas melhoram os resultados na correção da hérnia inguinal do adulto.
Existe risco mínimo de infecção e os materiais modernos não causam rejeição. Não há aumento de infertilidade ou de câncer com o uso de telas na cirurgia de hérnia inguinal.
Estas telas não são sentidas depois da cirurgia e a dor no período de recuperação é similar com ou sem uso da tela.
Como existem diversas marcas nacionais e importadas de telas, materiais e espessuras diferentes das mesmas, o uso é variado conforme características da hérnia inguinal, da saúde do paciente e do defeito local.
Sempre sugiro que a escolha da tela deva ser individualizada, se possível com uma tela moderna de baixo peso e alta porosidade, ou conforme o guideline brasileiro aqueles com peso entre 30-140g/m2 e poros maiores que 1mm.

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O preparo e a recuperação da cirurgia de herniorrafia inguinal
Como em qualquer procedimento cirúrgico existem riscos e são necessários alguns cuidados para um resultado excepcional da herniorrafia inguinal.
Entendemos que a herniorrafia inguinal é um procedimento de médio porte, que em pacientes com ausência de outras doenças costuma ter uma recuperação rápida, risco baixo e um alto índice de satisfação com o resultado final.
Recomendamos a realização desta cirurgia em ambiente hospitalar apropriado, com equipe anestésica capacitada, presença de ao menos dois cirurgiões experientes, bem treinados, capacitados e atualizados ao lado de um instrumentador cirúrgico.
A internação acontece geralmente no dia da cirurgia. Na maioria dos casos não é necessário raspar os pelos do púbis ou da virilha. O jejum deve ser de pelo menos 8 horas antes da anestesia.
Os antibióticos são usados caso a caso e em dose única imediatamente antes da cirurgia começar.
Alguns pacientes que usam medicamentos necessitam de orientação personalizada de como proceder na véspera e no dia da cirurgia.
Individualizamos os exames pré-operatórios requeridos de acordo com idade e condições de saúde. Estes exames devem ser dos últimos seis meses e precisam ser trazidos no dia da cirurgia.
A cirurgia e a anestesia geralmente duram uma hora. Usamos injeção de anestésico local no final do procedimento para o melhor conforto na recuperação.
O paciente fica, a seguir, cerca de 8 horas no hospital, vai para a casa caminhando e sem restrições de dieta geralmente no mesmo dia da cirurgia.
Não usamos drenos. Os curativos e os cuidados com os cortes são simples. Usamos pontos embaixo da pele que não serão removidos.
Cuidados em casa após a cirurgia de hérnia inguinal
A cobertura de plástico dos cortes pode ser removida ao chegar em casa, geralmente no primeiro banho. Pequenos adesivinhos, chamados steristrips, cobrem cada um dos pequenos cortes. Perderão a cola e cairão em 2-3 semanas após a cirurgia.
O tempo esperado para recuperação em casa é curto. Recomendamos repouso relativo e uso de analgésicos simples em comprimidos nos dias iniciais.
O paciente não precisa de afastamento prolongado do trabalho ou restrição de suas atividades. Não existem restrições de movimento. Pode-se dirigir assim que não haja dor, inchaços ou desconfortos no local e não se use remédios.
É extremamente importante evitar esforços como levantar objetos pesados do chão ou carregar grandes pesos durante alguns dias após a realização desta cirurgia, para que a cicatrização seja adequada e a região operada possa suportar maior esforço.
A quantidade de tempo sem atividade física varia caso a caso, a depender da técnica cirúrgica utilizada, da intensidade e tipo de atividade física.
Também não há necessidade de manter uma dieta específica para o pós-operatório da cirurgia de hérnia inguinal.
Após o procedimento cirúrgico manteremos contato constantemente (presencial e online).
Teremos encontros agendados para entender sua recuperação, examinar os cortes e avaliar o progresso até que você esteja sem dor e sem medicação, com cicatrização avançada e de volta a todas as suas atividades.
Outros cuidados após a cirurgia de hérnia inguinal
Alguns quadros são comuns e esperados após a realização da cirurgia de hérnia inguinal.
O desconforto no local dos cortes costuma ser pequeno. Nas cirurgias laparoscópicas e robóticas pode haver desconforto no ombro e sensação de estufamento na barriga, que geralmente melhora em 2-3 dias.
Homens podem sentir, por um tempo curto, desconforto na virilha, sensibilidade diferente no testículo ou na bolsa escrotal.
Existe, também, a possibilidade de o local ficar inchado ou roxo, o que pode ser minimizado com uso de compressas geladas por alguns dias e outros cuidados locais.
Outra reação possível é o intestino funcionar um pouco mais devagar. Pode ser interessante nesta situação manter uma dieta mais leve, natural, rica em fibras para estimular os movimentos intestinais.
Existe a descrição em poucas cirurgias de dor intensa na virilha. Esta dor pode estar relacionada aos nervos da região.
Na maioria dos casos é temporária e desaparece em algumas semanas. Nesta situação, ajuste de medicamentos e cuidados específicos fazem toda a diferença.
O melhor sinal de boa recuperação e sensação diária de melhora: menor dor, mais energia, menos necessidade de uso de medicamentos, progresso na alimentação e nas atividades do dia-a-dia.
Geralmente, após alguns dias após a realização da cirurgia, o paciente passa pelo retorno para uma avaliação comigo.
Entretanto, caso ocorra algum sintoma atípico ou qualquer tipo de mal-estar, sempre sugiro que me sinalizem para entendermos o que fazer e te orientarmos da maneira correta.

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Resultados da cirurgia de herniorrafia inguinal
Consideramos que a herniorrafia inguinal cura as hérnias após uma cirurgia bem realizada e cicatrização completa após um ano da cirurgia. Para cirurgiões experientes com uso de técnica adequada é esperado 99% de chance de cura, ou seja o desaparecimento da hérnia inguinal.
Falha da cirurgia: hérnia inguinal recidivada
Hérnia inguinal recidivada é aquela que por algum problema ao redor da cirurgia ou na fase de cicatrização retorna. Os sinais, sintomas e o diagnóstico são semelhantes.
Na maioria das vezes usamos exames de imagem para confirmar onde está o novo defeito herniário, presença e posição da tela e detalhes da região que farão a diferença em uma nova cirurgia.
Sugerimos que hérnias inguinais recidivsada sejam sempre tratadas por equipes especializadas.
Referências Bibliográficas
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- Claus C, et al. Guidelines of the Brazilian Hernia Society (BHS). For the management of inguinocrural hernias in adults. Rev Col Bras Cir 2019; 46: e20192226.
- Reistrup H et al. Watchful waiting vc repair for asymptomatic or minimally symptomatic inguinal hernia in men: a systematic review. Hernia 2021; 25:1121-1128.
- Stabilini et al. Update of the International HerniaSurge Guidelines for groin hernia management. BJS Open 2023; 7: zrad080.
- Van Veenendaal N et al. Consensus on international guidelines for management of groin hernias. Surg Endosc 2020; 34: 2359-2377.