O que é colelitíase (pedra na vesícula)?
Pedra na vesícula, também conhecida como cálculo biliar ou colelitíase, é uma condição em que se formam pequenas pedras dentro da vesícula biliar, que é um órgão que faz parte do aparelho digestivo.

A vesícula biliar está localizado junto ao fígado, na parte superior direita alta da nossa barriga, logo debaixo das costelas. A vesícula biliar é responsável pelo armazenamento da bile.
Quando ficamos tempo longo em jejum a vesícula biliar enche de bile. Quando comemos, a vesícula biliar esvazia a bile para ajudar na digestão.
A bile é um líquido digestivo produzido pelo fígado que ajuda na digestão, principalmente de gorduras. O aspecto da bile lembra óleo de oliva.

CRM: 143.673-SP
Quais são as principais causas e fatores de risco para aparecimento de colelitíase (pedra na vesícula)?
A principal causa para a formação de colelitíase (pedras na vesícula) é uma predisposição genética que leva a um desequilíbrio na composição dos elementos da bile e/ou no esvaziamento da vesícula biliar.
Costumo dizer que isto torna a bile (que é um “óleo”) arenosa, porosa, ou mais grossa, com aspecto de óleo sujo. O termo médico para isto é lama biliar.
A bile começa apresentar pequenos pedacinhos de areia que ao longo do tempo se juntam e aumentam em número e tamanho nas pessoas que tem esta predisposição, até que apareça colelitíase (pedra na vesícula) e um exame de imagem ou uma destas pedras cause sintomas.
Segundo a Johns Hopkins University, os principais fatores de risco para o aparecimento de colelitíase (pedra na vesícula) são:
- Sexo feminino
- Idade acima de 50 anos
- Obesidade
- Dieta rica em gorduras e colesterol
- Perda ou ganho rápido de peso
- Histórico familiar de cálculos biliares
- Diabetes
- Uso de medicamento para tratamento de colesterol
Quais os sintomas mais comuns de colelitíase (pedra na vesícula)?
Muitas pessoas com colelitíase (pedras na vesícula) não apresentam sintomas e podem viver por anos sem saber que tem problema (conhecido como colelitíase silenciosa).
No entanto, se uma pedra bloquear o canal da vesícula biliar (ducto cístico), pode ocorrer uma crise conhecida como “cólica biliar,” podendo causar:
- Dor intensa e repentina no lado superior direito ou no centro do abdômen
- Náuseas e vômitos
- Dor nas costas, entre as omoplatas
- Dor no ombro direito
Esta dor geralmente não se resolve espontaneamente, com analgésicos tradicionais, repouso ou soluções caseiras. Na maioria das vezes a intensidade faz que pacientes procurem serviços de emergência para tratamento médico e alívio dos sintomas.
Se a dor durar mais de algumas horas ou for acompanhada de febre, icterícia (pele ou olhos amarelados), ou vômito persistente, isso pode indicar uma complicação grave, como colecistite aguda (inflamação da vesícula), e requer atenção médica imediata.
Caso o tratamento não seja realizado, uma crise predispõe a ocorrência de outros episódios de cólica biliar, que tendem ao longo do tempo, de aumentar em intensidade, frequência e gravidade.
Existem diversas outras condições que são conhecidas como complicações de colelitíase (pedra na vesícula) e que podem gerar sintomas diferentes do de cólica biliar. A três mais comuns que precisam ser mencionadas são:
- coledocolitíase ocorre quando as pedras saem da vesícula para o ducto colédoco, impedindo a passagem da bile para o intestino. Os sintomas podem ser de febre, icterícia, fezes brancas, urina escura e dor semelhante a dor biliar.
- pancreatite aguda biliar ocorre quando pedras de menor tamanham passam por todo o canal da bile e inflamam o pâncreas. Os sintomas incluem dor abdominal, náusea e vômito. Em alguns casos a inflamação no pâncreas pode levar a falência de outros órgãos, necessidade de uso de UTI e risco de vida.
- câncer da vesícula biliar praticamente não existem sem a presença de pedras e inflamação por tempo prolongado. Mas vale a pena ressaltar que a relação de câncer com colelitíase (pedra na vesícula) requer outros fatores de risco associados.

CRM: 143.673-SP
Diagnóstico da colelitíase (pedra na vesícula)
Durante episódios de crise ou das complicações de pedras na vesícula, um cirurgião digestivo experiente e bem treinado deve suspeitar durante a consulta, com perguntas corretas e exame físico bem detalhado da presença de colelitíase (pedra na vesícula).
Para aqueles que nunca apresentaram sintomas o diagnóstico geralmente é realizado com exames de rotina para outras condições ou durante o check up.
Ultrassonografia da parte superior da barriga tem alta precisão para o diagnóstico de colelitíase (pedra na vesícula). Geralmente outros exames não são necessários para confirmação diagnóstica.

Tomografia computadorizada, ressonância magnética, ecoendoscopia e colangiografia podem diagnosticar colelitíase (pedra na vesícula) ou suas complicações. São usados para melhor entendimento e planejamento do tratamento.
Qual médico trata colelitíase (pedra na vesícula)?
O médico especializado em colelitíase (pedra na vesícula) é o cirurgião geral ou cirurgião do aparelho digestivo.
Alguns destes cirurgiões são dedicados ao tratamento de doenças do fígado, do pâncreas e das vias biliares. Estes superespecialistas são os cirurgiões hepatobileopancreáticos.
Quando é necessário operar a colelitíase (pedra na vesícula)?
Após um episódio de cólica biliar ou qualquer complicação referente a colelitíase (pedra na vesícula) está indicado o tratamento cirúrgico.
Em pacientes sem sintomas, a decisão é individualizada. A minoria de pacientes assintomáticos com colelitíase (pedra na vesícula) terão sintomas ou complicações relacionadas, com uma chance estimada de 1% a 4% a cada ano.
Pacientes com idade < 55 anos, com expectativa de vida > 20 anos, mulheres, com peso acima do ideal, presença de três ou mais pedras nas vesícula, pedras > 2 cm ou < 3 mm tem maior chance de apresentar sintomas
O risco de crises e complicações em curto prazo é pequeno, mas existem modelos que ajudam a entender riscos de complicações ao longo da vida e que nos ajudam a individualizar o tratamento.
Os principais fatores que determinam a necessidade de tratamento cirúrgico nos dias atuais são a presença e a intensidade dos sintomas, as condições gerais de saúde, a profissão, local de residência e os hábitos do dia-a-dia e condições para a realização da cirurgia.
Como tratar colelitíase (pedra na vesícula)?
O tratamento depende da idade, profissão, sexo, peso, tamanha e número de pedras na vesícual, local de residência, gravidade dos sintomas e condições de saúde do paciente:
- Observação: Se não houver sintomas, para alguns pacientes optamos em não realizar tratamento imediato.
- Medicamentos não dissolvem a colelitíase (pedra na vesícula). Da mesma maneira, terapias com ondas de choque, álcool, laser e outros tratamentos já foram testados e os resultados não são satisfatórios.
Não existe chá, dieta ou qualquer outro tratamento alternativo que comprovadamente elimine as pedras na vesícula
- Cirurgia é o tratamento de escolha, mais seguro e com eficiência cientificamente comprovada para o tratamento da colelítiase (pedra na vesícula).
A remoção cirúrgica da vesícula biliar com as pedras é o tratamento mais comum, conhecido como colecistectomia. A vesícula pode ser removida com corte grande na barriga, por laparoscopia (com pequenos cortes) ou com auxílio de tecnologia robótica.
Pacientes com saúde extremamente debilitada, normalmente em ambiente de UTI, que não tem condições de realizar anestesia geral e estão com colecistite aguda podem se beneficiar de colecistostomia (drenagem) para alivio dos sintomas e melhora do quadro.
Como é realizada a cirurgia de colecistectomia para tratamento da colelitíase (pedra na vesícula)?
A história da colecistectomia tem mais de um século, com inúmeras técnicas e variantes descritas e estudadas ao longo dos anos.
Inicialmente as cirurgias eram realizadas com grandes cortes debaixo das costelas ou lado do umbigo.
Ao longo dos anos, as técnicas, a anestesia e equipamentos evoluíram para chegarmos nas cirurgias por videolaparoscopia. Hoje, contamos com tecnologia ainda mais avançada para a realização de herniorrafia inguinal robótica.
A cirurgia convencional ou tradicional: colecistectomia “aberta”
O método que é ainda o mais utilizado para realização de colecistectomia no nosso país é a colecistectomia aberta. Sob anestesia geral realiza-se um corte de cerca de 10 centímetros debaixo das costelas.
A vesícula biliar é separada do fígado e do canal da bile e removida.
Quando bem executadas, colecistectomias abertas curam a colelitíase e as pedras na vesícula.
No entanto, existe maior dor no período inicial após a cirurgia e uma maior frequência de problemas relacionados ao corte na região, como infecções no local, inchaço e acúmulo de líquido e de sangue.
A cirurgia laparoscópica: colecistectomia laparoscópica
Esta técnica requer anestesia geral. Realizamos quatro pequenos cortes (menores que 10mm) embaixo das costelas e ao redor do umbigo.
Injetamos ar na barriga e coloca-se uma câmara para que a equipe identifique a vesícula e separemos a mesma do canal da bile e do fígado.
A vesícula biliar é removida pelo umbigo.
Os resultados da correção por laparoscopia, quando bem indicados e executados, são similares ou melhores que a cirurgia convencional. A colecistectomia laparoscópica permite:
- menor dor nos dias iniciais da cirurgia por usarmos cortes menores e não mexermos na virilha,
- menor cicatriz e melhor resultado estético,
- recuperação mais rápida do que o método convencional com menos inchaço e roxo.
- retorno mais rápido as atividades pessoais, profissionais e esportivas.
A revolução dos robos: colecistectomia robótica
Nos últimos 15 anos a tecnologia robótica é o que existe de mais avançado para a realização de cirurgias abdominais, especialmente as de maior complexidade.
Trata-se de um conjunto de tecnologias para a segurança do procedimento, maior precisão e a comodidade do cirurgião e facilidade de recuperação da cirurgia para o paciente.
Na cirurgia robótica o cirurgião controla um robô que está conectado à barriga do paciente. São feitos cortes e injeta-se gás de forma semelhante a laparoscopia.

Os grandes benefícios para o cirurgião são uma melhor visualização do local da cirurgia e uma maior facilidade de manipular instrumentos mais modernos na região do fígado e da vesícula biliar. Para o paciente o incômodo no período inicial é menor e a recuperação ainda mais rápida.
Alguns pacientes relatam que não tiveram dor alguma e o uso de medicamentos nos dias iniciais é bem reduzido.
Recomendo que a cirurgia de colecistectomia robótica seja realizada por equipe adequadamente treinada e atualizada, com grande experiência nos diversos tipos de tratamento das doenças da vesícula biliar e com cirurgia robótica.

CRM: 143.673-SP
O preparo e a recuperação da cirurgia de colecistectomia para tratamento da colelitíase (pedra na vesícula)
Como em qualquer procedimento cirúrgico existem riscos e são necessários alguns cuidados para um resultado excepcional.
Entendemos que a colecistectomia é um procedimento de médio porte, que em pacientes com ausência de outras doenças costuma ter uma recuperação rápida, risco baixo e um alto índice de satisfação com o resultado final.
Recomendamos a realização desta cirurgia em ambiente hospitalar apropriado, com equipe anestésica capacitada, presença de ao menos dois cirurgiões experientes, bem treinados, capacitados e atualizados ao lado de um instrumentador cirúrgico.
A internação acontece geralmente no dia da cirurgia. Na maioria dos casos não é necessário raspar os pelos do púbis ou da virilha. O jejum deve ser de pelo menos 8 horas antes da anestesia. Os antibióticos são usados caso a caso e em dose única imediatamente antes da cirurgia começar.
Alguns pacientes que usam medicamentos necessitam de orientação personalizada de como proceder na véspera e no dia da cirurgia.
Individualizamos os exames pré-operatórios requeridos de acordo com idade e condições de saúde. Estes exames devem ser dos últimos seis meses e precisam ser trazidos no dia da cirurgia.
A cirurgia e a anestesia geralmente duram uma hora. Usamos injeção de anestésico local no final do procedimento para o melhor conforto na recuperação.
O paciente fica poucas horas no hospital, vai para a casa caminhando e sem restrições de dieta geralmente no mesmo dia da cirurgia.
Geralmente não usamos drenos. Os curativos e os cuidados com os cortes são simples. Usamos pontos embaixo da pele que não serão removidos.
Cuidados em casa
A cobertura de plástico dos cortes pode ser removida ao chegar em casa, geralmente no primeiro banho. Pequenos adesivinhos, chamados steristrips, cobrem cada um dos pequenos cortes. Perderão a cola e cairão em 2-3 semanas após a cirurgia.
O tempo esperado para recuperação em casa é curto. Recomendamos repouso relativo e uso de analgésicos simples em comprimidos nos dias iniciais.
O paciente não precisa de afastamento prolongado do trabalho ou restrição de suas atividades. Não existem restrições de movimento. Pode-se dirigir assim que não haja dor, inchaços ou desconfortos no local e não se use remédios.
É extremamente importante evitar esforços como levantar objetos pesados do chão ou carregar grandes pesos durante alguns dias após a realização desta cirurgia, para que a cicatrização seja adequada e a região operada possa suportar maior esforço.
A quantidade de tempo sem atividade física depende da técnica cirúrgica e do tipo de atividade física.
Também não há necessidade de manter uma dieta específica para o pós-operatório da cirurgia de colecistectomia.
Após o procedimento cirúrgico manteremos contato constantemente (presencial e online). Teremos encontros agendados para entender sua recuperação, examinar os cortes e avaliar o progresso até que você esteja sem dor e sem medicação, com cicatrização avançada e de volta a todas as suas atividades.
Outros cuidados após a cirurgia de colecistectomia para tratamento da colelitíase (pedra na vesícula)
Alguns acontecimentos são comuns e esperados após a realização da cirurgia de colecistectomia.
O desconforto no local dos cortes costuma ser pequeno. Nas cirurgias laparoscópicas e robóticas pode haver desconforto no ombro e sensação de estufamento na barriga, que geralmente melhora em 2-3 dias.
Existe, também, a possibilidade de o local ficar inchado ou roxo, o que pode ser minimizado com uso de medicamento no local e outros cuidados por alguns dias.
Outra reação possível é o intestino funcionar um pouco mais devagar. Pode ser interessante nesta situação manter uma dieta mais leve, natural, rica em fibras para estimular os movimentos intestinais.
O melhor sinal de boa recuperação e sensação diária de melhora: menor dor, mais energia, menos necessidade de uso de medicamentos, progresso na alimentação e nas atividades do dia-a-dia.
Geralmente, após alguns dias após a realização da cirurgia, o paciente passa pelo retorno para uma avaliação comigo.
Entretanto, caso ocorra algum sintoma atípico ou qualquer tipo de mal-estar, sempre sugiro que me sinalizem para entendermos o que fazer e te orientarmos da maneira correta.
Referências Bibliográficas
- https://www.sages.org/publications/guidelines/guidelines-for-the-clinical-application-of-laparoscopic-biliary-tract-surgery/
- Hassler KR, et al. Laparoscopic cholecystectomy. Stat Perls 2024.
- Fujita N, et al. Evidence-based clinical practice guidelines for cholelithiasis 2021. J Gastroenterol 2023; 51: 801-833.
- Lee B, et al. Cholecystectomy for asymptomatic gallstones: a Markov decision tree analysis. World J Clin Cases 2022;10:10399-10412.
- Wang HH et al. Similarities and differences between biliary sludge and microlithiasis: Their clinical and pathophysiological significances. Liver Res. 2018; 2: 186–199.